Dear Marie, tell me, do you still believe in me?



Não podia ser. Depois de tanto tempo, eu nem sabia se a reconheceria. Talvez, se tivesse encontrado algum sinal dela na internet. Ou se tivesse voltado para casa mais vezes. Quando se tem quinze anos, todas as paixões parecem que vão durar para sempre. Claro, com quinze anos você não sabe que é imaturo (por mais que pense o contrário). Você não sabe que a sua visão de prioridades é completamente deturpada. Você não sabe que quando chegar aos 30, tudo o que vai querer depois de casinhos sem compromisso, é aquela menina, agora uma mulher, que te amou quando tinha 15 anos, espinhas e 20 dólares na carteira.

Me aproximei. Os cabelos loiros eram maiores e mais lisos, mas o tom era exatamente o mesmo da minha memória. Na nossa época, ela queria ser morena. Será que já foi em algum momento da vida? O corpo magro e a pouca altura batem com a Marie de 15 anos atrás. Ainda assim, era coincidência demais. Numa cidade grande como essa, quinze anos sem se ver e nós dois estarmos no mesmo supermercado. Às onze da noite. Impossível.

Voltei a focar nas minhas compras e tentei tirar isso da minha cabeça. Ou não, deixaria esses questionamentos e essas reflexões nostálgicas do passado na cabeça. De repente daria uma boa música. Segui o caminho contrário, de costas para a mulher que me despertou tudo isso, quando a vi. Uma menininha linda. Loira, com cachos e saia jeans com meia calça cor de rosa. Paralisei. A garota devia ter uns seis anos, mas não tive dúvidas quando olhei em seus olhos. Ela era idêntica à Marie. à minha Marie, de verdade. Passou correndo por mim e a segui com o olhar.

- Mamãe! - Ela chamou e eu teria me virado mais rápido para evitar o contato visual com a mãe dela se não estivesse tão impressionado. Quando percebi, era tarde demais. Não sei como mantive minhas compras nas mãos ao ver que realmente, ela era quem eu pensava que era. Não sei como mantive os joelhos firmes quando ela olhou em meus olhos e me reconheceu da mesma forma.
- Oi, Victoria. - Ela desviou o olhar de mim por dois segundos.
- Posso pegar uma caixa de Fruit Loops?
- Pode, querida. - Victoria deu um saltinho de felicidade e passou correndo por mim novamente.

Eu e Marie ficamos nos olhando por mais alguns segundos. Era difícil de acreditar que eu não tinha exagerado na bebida e não estava vendo coisas.

- John? - Assenti, ainda sem conseguir falar nada. - Você voltou... de vez?
- Não. - Ela abaixou os olhos. - Quer dizer. Não sei. Estou aqui por tempo indeterminado. Talvez não volte mais.
- Vai ser bom pra você ficar longe dos holofotes.
- Sim. - Apontei na direção de Victoria. - Ela é linda. - Marie sorriu de verdade. E eu me apaixonei outra vez.
- É mesmo. - Ela disse, orgulhosa.
- É muito parecida com você. - Sabia que ela ia ficar vermelha. E aquilo era tão adorável na Marie de 30 como era na Marie de 15.
- Pronto, aqui. - Uma jovem se aproximou com alguns produtos antes que ela pudesse me responder. Aparentemente, estavam juntas. Ela olhou para mim e para Marie algumas vezes, mas não fez comentário algum.
- Obrigada. Vicky foi buscar Fruit Loops. Vá atrás dela, por favor.
- Mas mãe...
- Apenas vá, Lydia. - Como uma típica adolescente, ela saiu batendo os pés e foi atrás da irmã mais nova. Marie me fitava com olhos ansiosos. Eu tinha perdido alguma coisa.
- Você sabe como fazer filhas bonitas. - Eu ri.
- Elas duas são a minha vida.
- Quantos anos elas tem? - Perguntei.
- Victoria tem 6. - Ela fez uma pausa.
- E Lydia? - Perguntei, quando percebi que ela não ia falar mais.
- Lydia tem 15.

8 comentários:

  1. WOOOW! Ariel de Deus, eu juro que você ainda me mata com esses finais, cara! rs
    Lindo, como sempre ♥

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    1. a graça é sempre o final, Titina :) hahahaha
      obrigada, baby <3

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  2. John, procriador, porque sim. hahha!!
    Que coisa mais linda e inesperada, meu Deus, Ariel, como você faz isso comigo??
    Tá de parabaaaaaains (e continua sendo minha escritora favorita)!! ♥

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    1. aaaaaaaaaaaaaain, sua linda <3
      obrigada!

      (sou a escritora favorita de alguém aeeeeeee)

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  3. Gente, que coisa maravilhosa! <3

    Beijinhos,
    Thais.
    www.cadernoderisos.blogspot.com.br

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  4. SENSACIONAL, Ariel!!!! Bem que poderia ser verdade, né? John reencontrando seu amor verdadeiro, puro, longe dos holofotes e da vida viciosa das celebridades... Final chocante! :D Lindo! <3

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    1. ô, Daniela, eu acho que desejava muito isso pra vida do John. Todo mundo merece sossegar em algum momento e seria maravilhoso se fosse com alguém não famoso no caso dele. Obrigada!

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