Feeling 22



- Angelina! Dá para demorar menos aí dentro? Desse jeito a gente só vai sair para comemorar o seu aniversário de 23 anos! – Noah gritou da sala e para ter me chamado de Angelina e não de Angie, a situação estava começando a ficar estranha para o meu lado. Achei melhor me apressar.
- Estou indo! – Gritei de volta.

Era meu aniversário de 22 anos, e agora todos os meus vizinhos deviam saber graças ao grito da Noah. Eu ia sair com as minhas amigas para comemorar, mais por elas do que por mim mesma. Ainda não estava muito no clima para festas... Noah, Lizzie, Isabella, Julie e Anne estavam me esperando na sala. Eu disse que não deveria ser a última a tomar banho, mas nunca me ouvem quando eu falo, fazer o que?

- Angie, rápido! – Foi a vez da Isabella gritar para me apressar.
- Pronto, podemos ir. – Falei já na sala. Elas cinco já estavam começando a ficar cansadas de esperar.
- Graças aos céus! – Anne disse.
- Superem o fato de que vocês não deviam ter me deixado ser a última a tomar banho. Vamos logo?
- Vamos, a noite é uma criança! – Lizzie disse.
- Haja tequila! – Isabella falou e eu fiquei com medinho porque não tenho a melhor das resistências com tequila.
- O táxi já chegou? – Julie perguntou e nós ouvimos uma buzina vinda da portaria.
- Acabou de chegar. – Falei. Lizzie dividia o apartamento comigo, então quando nós saímos, ela trancou as portas.

Anne era quem pensava nos detalhes práticos em tudo o que nós fazíamos e eu agradeci mentalmente a ela por ter se lembrado de pedir um carro grande quando nós ligamos para a cooperativa de táxi. Éramos seis, e não caberíamos num carro de tamanho normal sem chegarmos amassadas.

- Bar Maddox’s, no orla, por favor. – Noah disse ao motorista do taxi quando nós entramos. Achei estranho não termos pego muito transito numa sexta feira à noite em Los Angeles, mas foi até bom, chegamos mais rápido no Maddox’s.

Aquele era, provavelmente, o nosso bar preferido na cidade toda. Era daqueles bares com uma espécie de karaokê, onde você podia subir ao palco e cantar quantas músicas quisesse. Nós já conhecíamos até os funcionários. E era isso que sempre nos fazia entrar na frente da fila que sempre se formava na porta do Maddox’s.

Quando chegamos, tinha alguém no palco cantando Beautiful Disaster, da Kelly Clarkson e Anne e Isabella só faltaram ter um treco porque gostavam da música. Era a música que tinha inspirado um livro que elas curtiam... Ou algo do tipo.

- Seis tequilas, por favor. – Julie disse quando chegamos ao bar.
- Vocês querem que eu saia daqui carregada? Tequila já no início? – Perguntei.
- Angie, supera o fato de que você não é mais fraca com bebida como fala para o mundo. – Lizzie disse.
- Você vai beber essa e daqui a pouco vai cantar. – Isabella disse.
- Cantar? Hoje está muito cheio, muita gente vai me ver... – Falei.
- Não to nem aí, Angelina. Hoje é seu aniversário e você vai cantar. – Noah disse.
- Acho que vou precisar de mais tequila. – Disse.

Eu já tinha tomado o terceiro copinho – e tinha decidido parar – quando o vi pela primeira vez. Eu e as meninas estávamos dançando perto do bar e ele estava com um grupo de amigos há uns quinze metros de nós seis. E estava olhando para mim.

- E não é que alguém perdeu o olhar na Angie? – Noah disse.
- Ninguém perdeu o olhar em lugar nenhum, Noah. – Falei tentando disfarçar o rubor que se formou no meu rosto pela descoberta do meu projeto de flerte recém iniciado.
- Perdeu sim. Ele está te olhando desde que nós chegamos, você que só viu agora.
- Sério? – Perguntei rápido demais.
- Ah, eu sabia que você estava flertando de volta, sabia! – Anne disse.
- Vai fundo, Angie, ele é um gato! – Lizzie falou.
- Que vai fundo, menina? Parece que não me conhece. Qual foi a última vez que você me viu ficar com um cara aleatório?
- No ensino médio.
- Pois então, tem muito tempo! – Falei.
- Eu não falei para você casar com o cara, só para conversar. Pelo amor de Deus, é seu aniversário, supera o fato de que o seu ex-namorado não valia nada. Você está bem melhor sem ele. – Ela falou sem um pingo de arrependimento na voz e eu sabia que ela estava certa.
- Eu quero outra tequila. – Pedi no bar.
- Essa é a Angie que eu conheço! Mais seis, por favor. – Isabella pediu e nós fizemos um brinde. – Por uma noite sem interferências do resto do mundo.
- Pelos 22 anos da Angie, que seja a noite da vida dela! – Anne disse.
- Pelo esquecimento dos corações partidos. – Falei.
- Por se apaixonar por estranhos! – Julie disse olhando diretamente para mim.
- Por uma noite sem um pingo de sono. Dormir é para os fracos! – Noah disse.
- Vamos dominar a noite! – Lizzie falou e nós viramos os copinhos de tequila. O líquido desceu queimando na minha garganta e eu gostei da sensação. Lizzie tinha razão. Era hora de mudar.

Por isso, quando nós voltamos nossa atenção para a música que estava tocando no bar e voltamos a dançar, eu olhei na direção do meu objeto de flerte e ele estava distraído conversando com os amigos, mas em seguida, olhou na minha direção e encontrou o meu olhar. Não sei o que me deu, mas eu continuei olhando, não abaixei a cabeça e ele sorriu. E, uau, que sorriso.

Nós continuamos naquele joguinho de olhares por mais uns vinte minutos, até que o vi falando com os amigos e saindo de perto deles. Vindo na minha direção. Mas antes que ele chegasse, outra coisa chamou a minha atenção.

- E hoje, senhoras e senhores, é aniversário de uma das clientes mais assíduas do Maddox’s! E como é tradição nesse bar, aniversariante tem que cantar! – Eddie, o “mestre de cerimônias” do Maddox’s falou no palco – Dessa vez, as amigas dela já escolheram até a música. Angie Brown, onde você se escondeu? – As meninas começaram a apontar para mim e em menos de dez segundos todos tinham me achado. Inclusive o homem vindo na minha direção.

Olhei para ele e depois para o palco. Ele já tinha entendido que eu era a tal Angie. Só me restava subir lá e cantar o que quer que as meninas tenham escolhido para mim. Enquanto caminhava até o palco, recebi vários desejos de “Feliz Aniversário” de estranhos que pareciam me conhecer a vida toda. Uma menina até me abraçou...

Cheguei ao palco e quando me falaram a música que eu ia cantar, me senti muito desligada – ou muito bêbada – para não ter desconfiado antes. 22, da Taylor Swift. Não tinha música que definisse mais a minha noite que aquela.

“It feels like a perfect night to dress up like hipsters
And make fun of our exes, uh uh, uh uh
It feels like a perfect night for breakfast at midnight
And fall in love with strangers, uh uh, uh uh
Yeeeeeah, we’re happy, free, confused and lonely at the same time
It’s miserable and magical, oh yeeeeeah
Tonight is the night when we forget about the deadlines, it’s time, uh uh
I don’t know about you, but I’m feeling 22
Everything will be alright if you keep me next to you
You don’t know about me, but I bet you want to
Everything will be alright if we just keep dancing like we’re 22, 22.
It seems like one of those nights
This place is too crowded, too many cool kids, uh uh, uh uh
It seems like one of those nights
We ditch the whole scene and end up dreaming instead of sleeping
Yeeeeeah, we’re happy, free, confused and lonely in the best way
It’s miserable and magical, oh yeeeeeah
Tonight is the night when we forget about the heartbreaks, it’s time, uh uh
(…)
It feels like one of those nights
We ditch the whole scene
It feels like one of those nights
We won’t be sleeping
It feels like one of those nights
You look like bad news, I gotta have you, I gotta have you”

Eu cantei a música toda surpreendentemente animada, talvez por efeito das tequilas. Anne, Isabella, Julie, Lizzie, Noah e o tal rapaz que já sabia o meu nome e eu não sabia o dele foram os meus focos em meio à minha “plateia” enquanto eu cantava. Mas depois que acabei de cantar, o desconhecido sem nome sumiu do meu campo de visão. Deve ter ido embora, fugindo da pessoa que foi louca o suficiente para subir num palco e cantar Taylor Swift depois de várias tequilas. Quer saber, whatever. Mas essa é outra música...

- Arrasou, Angie! – Isabella disse animada quando eu voltei, me estendendo um copo de não sei o que. – Tive vontade de subir no palco e cantar com você.
- E por que não foi?
- Porque eu vi que não era só para a gente que você estava cantando, achei melhor não atrapalhar.
- Ah, ele foi embora, não ia atrapalhar nada. – Isabella passou o olhar de mim para algo nas minhas costas enquanto eu falava. Eu ia perguntar o que era, mas alguém me chamou antes.
- Angie? – Era uma voz masculina que eu não conhecia. Mas todo mundo naquele bar sabia que eu era a Angie hoje. Me virei sem me preocupar em quem ia encontrar e senti o rosto esquentar e o estômago revirar quando vi quem era. O estranho sem nome que não tinha ido embora.
- É meu nome. – Eu disse e ri, tentando disfarçar o nervosismo.
- Hum, eu sou Sam. Samuel, mas todos me chamam de Sam.
- E eu sou Angelina, na verdade. – Ele estendeu a mão e eu peguei na mão dele achando que ele só ia apertá-la, mas ele me puxou e deu dois beijinhos no meu rosto.
- Angelina, eu posso te pagar uma bebida?
- Só se parar de me chamar de Angelina Onde o Angie foi parar? – Ele riu.
- Ok, Angie. – Ele se aproximou do balcão do bar. – Gostei da música que você cantou lá em cima.
- Minhas amigas escolheram bem. – Falei enquanto o seguia para o bar.
- E sim, eu realmente quero saber mais de você. – Então ele entendeu que eu cantei esse pedaço da música para ele? Bom... – Mas eu te garanto que sou um bom rapaz, nada de bad news. – Eu ri.
- Vamos ver se você é mesmo um bom rapaz. O que o Samuel faz da vida?
- O Samuel é estudante de engenharia química na Universidade da Califórnia. E a Angelina?
- Ela faz cinema na mesma universidade. – Ele sorriu.
- E como o Samuel nunca viu a Angelina por lá?
- Não sei. Sei que o Sam e a Angie acabaram de se encontrar no Maddox’s hoje eu acho que isso vai ser bom. – De onde eu tirei coragem para falar isso mesmo?
- Definitivamente, vai ser bom.
- Bem, acho que você sabe que hoje é meu aniversário...
- 22 anos, parabéns, Angie!
- Obrigada. – Eu sorri. – Quantos anos você tem, Sam?
- Também tenho 22. Faço 23 no final do ano. Você quer dançar, Angie?
- Eu achei que você fosse demorar mais a pedir. E eu não costumo ter a língua tão solta, mas estou meio bêbada.
- Eu acho que o fato de você ter admitido que está bêbada prova que você esta á pior do que imagina . – Anne falou e tirou o copo da minha mão. – Já chega por hoje de álcool, Angelina.
- Ok, Anne. – Anne sumiu com a mesma rapidez que tinha chegado. – A Ann tem complexo de mãe. É sempre assim. Mas eu acho melhor mesmo eu parar de beber.
- Eu paro junto com você. – Ele se virou para o barmen – Por favor, duas latinhas de coca cola? 

Uau. Ele parou de beber por minha causa. Sam tinha acabado de ganhar uns dez pontos comigo. Will nunca parava de beber, nem quando eu pedia... E por que eu estava comparando esse cara que eu nem conhecia com o meu ex namorado mesmo? Depois que pegamos nossos refrigerantes, nós fomos dançar.

- Até que você dança bem para um engenheiro químico... – Falei.
- Você dança incrivelmente bem para uma cineasta.
- Acho que esqueci de te dizer que eu também sou dançarina...
- Agora está explicado porque todo mundo está olhando para nós dois.
- Estão olhando para a gente? – Perguntei parecendo um pouco desesperada. Acho que o efeito das tequilas estava quase passando.
- Todos menos algumas das suas amigas que arranjaram outras distrações... – Olhei para trás e Anne e Lizzie estava super empolgadas conversando com dois meninos que me pareceram familiares...
- Aqueles não são os seus amigos? – Perguntei.
- Sim. São os Josh.
- Os Josh?
- Eles tem o mesmo nome e usam essa coincidência para puxar papo com as meninas. – Levantei a sobrancelha – Mas não precisa se preocupar, no fim das contas, eles são caras legais.
- Menos mal. Sabe como é, mexe comigo, tudo bem. Mexe com a minha melhor amiga, você está morto. E elas são duas... – Brinquei.
- Isso também vale para elas? – Ele perguntou se fazendo de preocupado.
- Foi com elas que eu aprendi.
- Então eu acho melhor tomar cuidado... – Ele falou e nós dois rimos. Todo sinal de que ele era problema tinha sumido àquela altura junto com o efeito da bebida.
- É melhor mesmo. – Nós continuamos dançando e instantes depois, ele voltou a falar.
- Angie, você quer conversar lá fora? A gente pode dar uma caminhada na praia...
- Eu ainda não sei se posso confiar em você, Samuel...
- Eu juro que vou me comportar. Até porque, se eu fizer algo a mais, suas amigas podem me matar. – Sorri.
- Ok, vamos caminhar, Sam.

Eu parei para avisar às meninas que ia sair dali antes e Julie me fez jurar que eu ia ligar se alguma coisa acontecesse e que não ia sair da praia. Minha mãe estava sendo bem representada pelas minhas amigas.

O bar estava bem cheio, então eu estava tendo problemas para conseguir sair do lugar porque sou pequena. Sam tomou a frente e foi me puxando pela mão. Eu não estava enxergando muita coisa além da camisa branca dele na minha frente. Do nada, senti alguém me puxar pelo outro braço e apertei a mão de Sam com mais força, tentando me segurar.

- Você não perdeu tempo, hein, Angelina. – Reconheci a voz da pessoa que tinha me puxado no momento em que a ouvi. Puxei Sam outra vez e ele se virou para ver o que tinha acontecido.
- O que você quer, Will?
- Quero que você largue desse cara aí e fiquei comigo.
- Angie, quem é esse cara? – Sam perguntou.
- É meu ex-namorado. EX- namorado. Lembra disso, William? Foi você quem terminou comigo.
- Mas eu mudei de ideia. E você é minha, eu te quero de volta e vou te ter.
- O quê? – Perguntei sem entender nada. – Você só pode estar de sacanagem.
- Não estou, Angel.
- Não me chama de Angel.
- Eu te chamo do que eu quiser e você vai vir comigo. – Ele me puxou de novo e eu não consegui segurar a mão do Sam.
- Larga ela, cara. – Sam se aproximou. Will estava claramente bêbado, mas ainda tinha a força de quando estava sóbrio.
- Você está me machucando. – Falei.
- Eu não vou te largar. E você, cara, não é ninguém para me impedir.

Ele empurrou Sam com a outra mão e o resto aconteceu tão rápido que eu quase não entendi. Só assimilei as coisas quando vi Will cambaleando para trás e esbarrando em um monte de gente enquanto me soltava. Sam tinha acabado de dar um soco nele. Ainda estava meio desorientada quando agarrei a mão estendida dele e o deixei me levar rapidamente para fora do Maddox’s.

- Você está bem? – Ele perguntou depois que atravessamos a rua e chegamos ao calçadão da praia.
- Você deu um soco no meu ex-namorado.
- Pois é... Eu acho que esqueci de te dizer que também sou lutador de boxe. E ele estava te machucando.
- Estava mesmo... Mas você não tem o costume de fazer isso não, né? – Eu acho que estava um pouco assustada.
- O que? Sair socando as pessoas assim? – Assenti. – Não, não tenho. E nem posso... Se meus professores do boxe descobrem o que eu fiz hoje, eu levo uma suspensão.
- E por que você fez?
- Já disse, porque ele estava te machucando. – Sorri.
- Obrigada.
- Disponha. Acho que eu te devo uma caminhada na praia, certo?
- Certo. – Nós tiramos os sapatos e fomos para a areia.
- Hum, Angie... Eu posso te perguntar uma coisa?
- Outra coisa além dessa que você já está perguntando? – Eu ri. – Pode.
- Como você conseguiu ficar com um babaca que nem aquele?
- Ele não era tão babaca no início...
- Quanto tempo vocês ficaram juntos?
- Um ano, mais ou menos. E terminamos há dois meses. Ele terminou comigo porque eu “comecei a cobrar demais”. Mas a verdade foi que eu descobri que ele ficava com metade das meninas da faculdade nas minhas costas. E ele nunca admitiu.
- Então ele só terminou com você para poder falar que não levou um toco?
- Exatamente.
- Que cara ridículo. Ele também estuda na mesma universidade que a gente?
- Sim. Faz Educação Física. – Respondi.
- Não confio em gente das biológicas.
- Eu costumava não confiar em quem faz exatas... – Falei.
- Costumava?
- Pois é... Você faz exatas. Eu acabei de te conhecer e você já me tirou de perto das minhas amigas e deu um soco no meu ex. Eu não sei por que, mas eu confio em você.
- Eu disse que era um cara legal. – Eu ri.
- Eu te dou o veredicto antes de ir embora.
- Ok. – Ele pegou a minha mão outra vez e nós fomos caminhando com os pés no mar. Saímos de perto quando a água começou a ficar muito gelada e nos sentamos na areia.

Perdi completamente a noção da hora conversando com ele e me assustei quando vi os primeiros raios de sol no horizonte.

- Meu Deus, o dia já está clareando! – Falei.
- Eu devia ter te levado para casa... Alguma coisa podia ter acontecido com nós dois na praia de madrugada. – Ele disse.
- Definitivamente, você é um cara legal, Sam. – Falei.
- Deu para ter certeza depois de uma noite inteira de conversa?
- Uma pessoa que assiste Procurando Nemo com os sobrinhos repetidas vezes não pode ser de todo ruim... – Falei.
- Eu não tinha reparado nos seus olhos até agora... – Ele disse.
- Eles são castanhos e sem graça. – Falei.
- Não são. Você já viu os seus olhos na luz do sol nascente?
- Não. – Ele pegou o celular e colocou na minha frente para que eu visse o meu reflexo.
- Seus olhos são lindos, Angie. – Ele disse e eu tive que concordar internamente.
- Os seus também são.
- Não, os meus são sem graça. Verdes. Todo mundo que tem olhos verdes recebe elogio por causa deles. Mas os seus são diferentes... E intrigantes.
- Intrigantes?
- Sim. Mas eu acho que isso já fica por conta do seu olhar... – Eu sorri e acho que corei. Abaixei a cabeça e mexi no cabelo tentando disfarçar a timidez.
- Angie? – Ele disse enquanto levantava o meu queixo.
- Oi.
- Eu vou te dar um beijo agora, ok? – Respirei fundo.
- Se você não me beijar, eu te beijo. – Ele sorriu e me beijou.

Eu não tinha a mínima noção do que estava fazendo ali, sentada na areia da praia beijando um cara que não conhecia nem há doze horas, mas, do nada, tudo parecia certo.

- Hum... Já que eu sou um cara legal, eu posso te convidar para sair? – Ele perguntou.
- Eu acho que isso aqui já é mais ou menos um encontro.
- Não mesmo. Eu não soco pessoas num encontro. Preciso me redimir por isso. E quero te ver outra vez...
- Sendo assim... Sim, você pode me convidar para um encontro.
- Você vai fazer alguma cosia hoje à noite?
- Sim, tenho um encontro com um cara que eu conheci num bar na noite do meu aniversário... – Ele me deu outro beijo. – E que beija muito bem, por sinal.

Ele sorriu e me beijou outra vez. E eu não tinha a mínima intenção de fazer esses beijos pararem... 



Esse texto foi uma grande brincadeira com as personagens da minha fic (In New York's Streets)
Anne, Isabella e Julie e da fic da Izabela (Ballerina Dreams),  
Angie, Noah e Lizzie. 
E claro, inspirada em 22, da diva Swift ;)
Espero que vocês tenham gostado, hehe  

I forgive you, I forgive me ♪


Eu voltava para casa naquele fim de tarde chuvoso me sentindo péssima pelo mesmo motivo de sempre. Mais uma vez, deixei Ryan me enganar. Mais uma vez, acreditei no seu sorriso fácil e na sua voz de veludo. Mais uma vez. E decidi que essa seria a última. Mas eu já não tinha decidido isso das outras vezes? Eu já não chorava mais. Não tinha mais lágrimas para gastar com ele. O que eu sentia era mais do que um simples coração partido. Era um sentimento de insuficiência. Era comigo. Eu estava irritada comigo mesma por ter caído na mesma história, por ter acreditado nas mesmas palavras. Eu só tinha 17 anos, eu só estava me formando no ensino médio. Eu ainda tinha muita coisa para viver, muitas pessoas para conhecer... Mas será que um dia eu vou conseguir deixar tudo isso para trás?

- Annabeth? – Ouvi a voz de minha mãe me chamar quando entrei em casa.
- Oi mãe. – Disfarcei a cara emburrada, tentei colocar uma alegria no tom de voz e fui até o encontro dela na sala.
- Chegou uma carta para você... De Cambridge. – Minha admissão na faculdade.
- Cadê, mãe?
- Em cima da mesa. – Ela apontou para um envelope azul e branco no meio da mesa da sala. Eu tinha esquecido que a carta ia chegar hoje. Só faltava eu não ter sido aceita para completar meu maravilhoso dia. Peguei o envelope e mesmo com o olhar curioso de minha mãe, fui para o meu quarto. O coloquei em cima da minha cama e fiquei horas encarando aquele pedaço de papel que podia virar a minha vida de cabeça para baixo. Olhei pela janela procurando pelo meu vizinho e melhor amigo, Clapton, mas sua janela estava fechada e as luzes estavam apagadas. Eu queria saber se a carta dele havia chegado, se ele tinha passado, se ele ia para Londres... Se ele ia me abandonar aqui em Los Angeles. Se ele estivesse aqui, com certeza já teria me feito abrir esse maldito envelope. E foi o que eu fiz num impulso. Peguei o envelope, o rasguei e peguei a carta.

“Annabeth Chase Montgomery, blá, blá, blá, blá, você foi admitida para se juntar ao corpo de alunos da Cambridge University no próximo outono”

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Eu comecei a chorar tudo o que não tinha chorado naquele dia. Mas aquelas lágrimas eram diferentes. Eram de alegria. Tyler, meu irmão mais velho chegou imediatamente ao meu quarto, assustado por causa do meu grito.
- O que aconteceu, Ann? – Eu corri para os seus braços e tudo o que eu conseguia fazer era chorar. Ele entendeu tudo quando viu a carta na minha mão. – Você foi admitida? – Assenti. – AAAH, A MINHA IRMÃZINHA VAI PRA LONDRES
- O que? – Meu pai perguntou enquanto entrava no quarto junto com a minha mãe.
- A Ann foi admitida em Cambridge, pai! – Tyler respondeu percebendo que eu não conseguia falar nada. Meus pais me abraçaram e eu chorei mais ainda. Não acreditava que aquilo estava realmente acontecendo. Quando eles conseguiram me acalmar e eu já conseguia falar alguma coisa, nós ouvimos gritos vindos da frente da nossa casa.
- ANNABEEEEEEEEEEEEEETH! ANNABEEEEETH APARECE NA JANEEEELA! – Clapton estava no meio da rua, todo molhado por causa da chuva que caía desde cedo. Ele odiava chuva. Aquela euforia toda só podia significar uma coisa.
- Estou descendo! – Falei assim que cheguei na janela. Saí correndo pelo meu quarto deixando meus pais e meu irmão para trás, desci as escadas de dois em dois degraus, abri a porta da sala num puxão só e pulei os degraus da varanda, parando na frente de Clapton.
- Minha carta de Cambridge chegou. – Ele falou. – E eu fui admitido!
- AAAAAAAAAAH, EU TAMBÉM!
- ANN, NÓS VAMOS PRA LONDRES! – Ele me deu um daqueles abraços de urso que me tirava do chão e começou a pular comigo no colo em baixo da chuva enquanto nós dois gritávamos e chorávamos no meio da rua. Nossos pais estavam na janela da minha casa nos olhando e os vizinhos começaram a aparecer nos portões perguntando o que tinha acontecido.
- NÓS VAMOS PRA CAAAAAAAAAAAAAMBRIDGE! – Era a nossa resposta para cada um que aparecia. Já estávamos quase entrando na minha casa quando um carro que eu conhecia parou na nossa frente e abaixou o vidro. Era Ryan.
- O que é isso, Annabeth? Ficou louca? – Ele perguntou como se eu devesse algum tipo de satisfação para ele.
- Vai embora, cara. – Clapton respondeu por mim. Ryan o ignorou e olhou para mim. Eu sempre ficava do lado dele quando Clapton fazia essas coisas, mas dessa vez foi diferente.
- Vai embora, Ryan.
- O que? Eu vim aqui pra gente conversar e se acertar, gata. Entra no carro...
- Acertar o que, Ryan? A gente não tem nada pra acertar. E, por favor, não me chama de gata. E ah, lembra de quando você disse que eu não era inteligente o suficiente para entrar em Cambridge? Pode começar a morder a sua língua, porque eu passei. Eu vou para Londres. E você está estragando a minha comemoração. – Ele olhou para mim sem entender nada e foi embora. Só eu sei o quanto doeu falar aquilo tudo para ele, mas eu tinha que me libertar. Eu tinha que superar. Querendo ou não, cinco anos sem encontrar com ele se esticavam na minha frente.
- Você nunca mais vai chorar por causa desse babaca. – Clapton falou para mim e me deu um abraço.
- Não mesmo. – Respondi.
- Hey, crianças, saiam dessa chuva! – Eu tinha acabado de receber a minha admissão na faculdade e a minha mãe ainda me chamava de criança... Mães. – Eu fiz chocolate quente. – A palavra mágica. Nós dois saímos correndo – feito duas crianças – jogando água das poças do chão um nos outro. – E nós temos que começar a combinar os detalhes da ida de vocês para a Inglaterra. – Minha mãe disse quando nos aproximamos.

CINCO ANOS DEPOIS

Clapton estacionou o carro na calçada entre as nossas antigas casas. Era estranho estar de volta de vez. Me acostumei com as idas e vindas de Los Angeles para Londres nesses cinco anos, e parece que aqui não é mais a minha casa, é a casa dos meus pais. Agora eu sou visita, ainda mais com esse anel na minha mão esquerda, que só faltava lançar um néon na minha testa escrito “estou noiva”. Nossos pais ainda não sabiam. Clapton fez o pedido ontem, antes de irmos para o aeroporto. Mas eu acho que quando eles estiveram em Londres para a nossa formatura já desconfiavam de alguma coisa. Tyler nem fez a piadinha de sempre sobre morarmos no mesmo apartamento. Desci do carro e fiquei olhando para a janela do meu antigo quarto. Nunca achei que me sentiria tão estrangeira na minha própria casa. Clapton parou do meu lado e percebi que ele também olhava para a janela do antigo quarto dele.

- É estranho, né? – Ele perguntou.
- O que exatamente? Nós estarmos voltando para casa, o nosso sotaque completamente inglês nos Estados Unidos, a sensação dessa ser a casa dos nossos pais, não nossa, ou isso tudo somado ao fato de que da última vez em que viemos aqui, não estávamos nem namorando e agora estamos noivos?
- Tudo isso somado ao nosso noivado. – Ele pegou a minha mão esquerda e olhou para o anel.
- Nossos pais vão pirar. – Falei tentando imaginar a reação das nossas mães quando vissem esse anel de noivado no meu dedo.
- Bem no fundo, eu acho que essa sempre foi a vontade deles...
- É verdade! Minha mãe nunca gostou das suas namoradas.
- Nem você, vai, admite. – Ele falou se aproximando.
- Você também não gostava dos meus namorados, estamos quites. – Ele me deu um beijo.
- Preparada para encarar a festa surpresa que eu sei que está esperando por nós dois na sua piscina?
- Sim. Com certeza não vai ser só um almoço de boas vindas. – Dito e feito. Entramos em casa de mãos dadas, ele segurava a minha mão direita de propósito, para que a mão esquerda ficasse livre e todos vissem o meu anel de uma vez. Não tinha ninguém na sala, chamei no pé da escada em direção ao segundo andar e ninguém respondeu. Fomos para a cozinha, e ela estava às moscas. Paramos em frente às duas portas que davam no jardim.
- Cara de surpresa em 3, 2, 1... – Puxei o lado esquerdo e ele o lado direto da porta e lá estavam todos. Nossos pais, irmãos, sobrinhos, amigos da época da escola, vizinhos, tios, primos, todos. Meu anel conseguiu passar as primeiras apresentações sem ser notado. Até que Candice, minha prima, percebeu a existência dele enquanto conversávamos.
- ANNABETH CHASE MONTGOMERY, QUE ANEL É ESSE NO SEU DEDO? – Olhei para Clapton enquanto todos olharam para mim depois do comentário discreto da minha prima. Ele me abraçou pelos ombros e eu envolvi sua cintura com o braço direito enquanto ele me dava um beijo na testa. Levantei a mão esquerda na altura do meu rosto e anunciei.
- Estamos noivos. – Nossas mães começaram a chorar. Meu irmão fez uma ameaça de brincadeira à vida de Clapton. Nossa família veio nos cumprimentar mais uma vez, agora dando os parabéns pelo noivado. Ninguém pareceu muito surpreso, para falar a verdade. O tom dos comentários não era “eles só tem 22 e já vão casar”, era mais para um “achei que eles fossem casar aos 18 quando foram para Londres, até que esperaram o suficiente”.
- Parabéns, Annabeth. Parabéns, Clapton. – Alguém atrás de mim falou com uma voz que não era estranha para mim, mas eu não lembrava de quem era, de repente pelo amadurecimento...
- Ryan... Obrigada. – Clapton enrijeceu os músculos ao meu lado, mas se tranquilizou quando eu segurei a sua mão.
- Obrigado, cara. – Era a primeira vez que nós dois víamos Ryan desde a noite em que descobrimos ter sido admitidos em Cambridge. Ele estava diferente, tinha um tom mais sério em sua expressão. Visivelmente não era mais o adolescente irresponsável e inconsequente que eu deixei aqui quando fui embora. Nós ficamos num silêncio constrangedor até que Ryan tomou coragem e falou outra vez.
- Clapton, eu posso falar com a Annabeth por um momento? – Ryan Price pedindo permissão para fazer alguma coisa. Ele definitivamente não era mais a mesma pessoa. Clapton olhou para mim e eu fiz um ligeiro movimento afirmativo com a cabeça. Mais do que ninguém ele sabia que eu tinha que ter aquela conversa com o meu passado. Ele sabe o quanto eu sofri. Clapton segurou meu rosto com as duas mãos e me deu outro beijo na testa. Cumprimentou Ryan com a cabeça e foi conversar com uns amigos. – Ele é um cara de sorte... – Ryan balbuciou,mas eu ignorei.
- Vamos para a varanda da frente. Vai ser melhor de conversar lá. – Fizemos o caminho de volta para a entrada da minha casa mais uma vez, num silêncio constrangedor.
- Ann...abeth – Ele não sabia se me chamava pelo nome ou pelo apelido. – Quando eu ouvi que você estava voltando para cá, soube que teria que vir falar com você. – Ele achou que eu fosse falar alguma coisa, mas como continuei calada, ele prosseguiu. – Eu fui um babaca. – Assenti internamente. – Vim te pedir desculpas pelo que fiz com você durante todo aquele tempo. Eu gostava de você, por mais que seja difícil de acreditar. Eu só era muito inconsequente. Achava que nunca ia te perder e não te dei o valor necessário. Eu passei esses cinco anos pensando em te ter de volta quando você voltasse para casa, mas pelo visto, cheguei muito tarde...
- Pois é... De certa forma, eu ter ficado com o Clapton foi culpa sua. Era sempre ele quem ficava do meu lado quando eu voltava para casa chorando por causa de alguma coisa estúpida que você tinha feito. Foi ele que ficou perto de mim quando eu senti a sua falta assim que eu me mudei para Londres. Foi ele quem me ajudou a te esquecer. Foi por ele que eu me apaixonei quando eu consegui voltar a sentir alguma coisa depois de você.. – Ele ouvia tudo calado. – Eu te perdoo pelo que você me fez passar, nós éramos muito novos e pelo visto você mudou bastante de lá para cá. Mas eu te agradeço por tudo o que você fez. Porque você fez com que eu enxergasse que o amor da minha vida estava muito mais perto do que eu podia imaginar. Ele era, literalmente, “the boy next door”. O estrago está feito, não tem mais como mudar. Passar o resto da minha vida te odiando só vai fazer mal a mim mesma. Eu voltei para casa completamente diferente, e quero deixar essa mágoa no passado.
- Você não sabe o quão agradecido eu fico por você ter me perdoado. E, sinceramente, feliz pela maior burrada que eu fiz na minha vida ter gerado bons frutos, pelo menos para você. Já posso ir embora tranquilo. – Ele desceu as escadas da varanda e virou para mim quando chegou no chão. – Seja feliz, Ann.
- Eu sou, Ryan. Te desejo o mesmo. – Ele foi para o carro e eu voltei para a minha festa de boas vindas.

 Clapton estava conversando com um de seus primos, mas assim que me viu voltar, veio em minha direção.

- Cadê o Ryan? – Ele perguntou quando se aproximou.
- Foi embora.
- O que ele disse?
- Que você era um cara de sorte. – Ele sorriu.
- Você está bem? – Ele afastou uma mecha do meu cabelo que caía nos olhos.
- Não podia estar melhor. – Ele me deu um abraço. – Eu te amo, Clapton.
- Eu também te amo, Annabeth. – Ele me deu um beijo e sem sair do meu lado, voltamos para o meio dos convidados. E eu soube que as coisas seriam assim para sempre. Eu e ele. Juntos. Para sempre.



Hey pessoas, não sei se vocês sabem, 
mas eu sou vi-ci-a-da em Kelly Clarkson, 
e essa música  tem um significadozinho especial, 
bateu inspiração e  rolou textinho. 
Espero que vocês  tenham gostado ♥

Morando Sozinha: O início

Quando pequena, eu falava que ia sair de casa quando fizesse dezoito anos. Mas, nessa época, eu achava que morar sozinha era como montar uma casa da Barbie. Nunca imaginaria que eu, no alge da grande experiência adquirida ao longo dos meus dezoito anos de vida, sairia de casa, de fato. Não, eu não saí "temporariamente". Eu saí mesmo. Me mudei para outra cidade, para ficar perto da faculdade.

Muitos no meu lugar, com certeza, estariam comemorando, prestes a cair nas festas e nas noitadas sem a fiscalização dos pais. Confesso que comemorei no início. Não por causa das tais festas, até agora não fui a nenhuma. Mas pela mudança que ia ocorrer e que, olhando de fora, parece muito mais simples do que realmente é.

O engraçado é que eu tenho uma amiga que mora sozinha, pelo mesmo motivo que eu, que repetiu, diversas vezes antes da minha mudança: "Não reclame de morar com seus pais". Eu ouvia e pensava: "É claro que eu vou sentir falta dos meus pais. Mas já estou acostumada a passar váriso dias fora de casa, não ai ser muito diferente agora...". E eu não podia estar mais enganada!

Dei muita sorte de ter conseguido um lugar legal. Divido o quarto com uma colega de classe e o apartameto com mais um menino e uma menina. Eles são incríveis. Todos me receberam super bem, me acolheram maravilhosamente. Mas, aqui, pela primeira vez na vida, eu respondo por mim mesma, ninguém se responsabiliza. Se eu quiser sair e passar a noite fora de casa, ninguém vai me ligar às duas da manhã perguntando onde eu estou e muito menos vai me esperar acordado. Pode parecer pouco, mas no início, tudo é um baque.

Aí, você imagina como não deve ter ficado a minha cabeça, quando, na minha segunda noite na casa nova, minha colega de quarto saiu e eu não. Voltei para casa sozinha depois da aula, quase surtando - nunca tinha andado de ônibus sozinha por um lugar que não conheço -, e para completar a situação, eu ainda não estava habituada à casa nova, e muitos podem não acreditar, mas, sim, eu sou tímida.

Fiz o mínimo de coisas que a minha vergonha me deixou fazer. Um miojo - comida oficial de adolescente que mora sozinho -, tomei um banho e entrei na internet pra me distrair. Nessa de "me distrair", fiquei conversando com um amigo pelo facebook até as três da manhã. E a minha colega de quarto? NADA. Eu estava começando a ficar oficialmente preocupada. Decidi ir dormir por causa da aula e da prova que tinha no dia seguinte, e às três e meia, ela me ligou, dizendo que ia dormir na casa de um amigo porque ficou tarde para voltar sozinha.

Ela chegou às 10 da manhã. Eu já estava acordada, e morrendo de vergonha de sair do quarto, claro. A reação das outras pessoas da casa foi tão natural, que eu cheguei a me sentir ridícula por ter me preocupado tanto. De certa forma, essa noitada dela foi boa para fazer a minha ficha cair: Eu não precisava dar satisfação a ninguém enquanto estivesse aqui. Vai dizer isso para alguém que viveu dezoito anos sob rédeas curtas... É MUITO estranho. Mas, de certa forma, é bom.

Certo dia, um amigo disse que eu ia criar responsabilidades  super rápido depois que me mudasse. Eu não acreditei, já me achava responsável. Mas, não é que agora eu lembro de verificar se a porta está trancada antes de dormir?

Um novo capítulo se iniciou na minha vida. E ele vai gerar vários capítulos por aqui. Vai que um dia alguma editora resolve publicar minhas peripécias de recém liberta?

Sim, essa história e as próximas que eu vou publicar nessa tag, são, 
diferentemente das outras,
verídicas. E provavelmente estão acontecendo  comigo
no momento em que você estiver lendo esse texto. 
Espero que vocês curtam ler as minhas histórias
da mesma maneira que eu curto escrevê-las.
E da mesma forma que eu estou amando vivê-las.
Um beijo da Pequena Sereia.  

Figurinha repetida

"Foi só mais um beijo", ela pensou. "Só um beijo". Ela sabia, desde o início, que não conseguiria se sentir do mesmo jeito em relação a ele, mas resolveu tentar. Por ele. Por carência. Não sabia o porquê.

- Você sabe que a gente vai demorar a se ver. Sabe que agora, eu moro longe. Mais do que tudo, sabe que o que eu disse da última vez ainda vale. Sabe que é complicado
- Eu quero fazer um esforço para descomplicar - Ele disse, enquanto ela tentava ignorar a conversa, de olhos fechados, quase dormindo.

Ela não tinha mais o que falar. Sabia que ia se arrepender antes de fazer o que fez. Mas o fez. Ficou com ele mais uma vez.

Ela achou que ia sentir as tais borboletas no estômago, que ia ver tudo mais colorido, que ia sentir tudo o que sentiu da primeira vez. Mas, ao invés disso, ela sentiu outra coisa. Ela não sentiu nada. Nada além de um sentimento de culpa imenso. Aquela sensação de "não devia ter feito isso".

- Vou sentir a sua falta - Ele disse, ao se despedir. Suas palavras pairaram no ar, indo de encontro ao vazio da resposta dela.

No final do dia, ele estava esperançoso, e ela, culpada. Ele esperava pelo próximo encontro. Ela sabia que isso não ia acontecer. Ela não conseguia sentir mais nada. Nem o pouco que costumava sentir antes. Naquele caso, a figurinha repetida não ia ficar para a coleção.

A Melhor Coisa Que Já Foi Minha


Tudo começou quando eu resolvi parar na cafeteria do campus da universidade, num dia comum, que deveria ser como qualquer outro. Era o início do ano letivo e eu ainda não conhecia muita gente... Nem mesmo havia ido àquele lugar antes. Era bem tranquilo, e para qualquer lado que se olhava, via-se alguém com um livro aberto, tomando notas num caderno ou simplesmente lendo. "Vou gostar daqui", pensei. Mal sabia eu que a tranquilidade não seria o único motivo para que isso acontecesse...

Escolhi a mesa onde sentaria, e um rapaz de avental se aproximou com um bloquinho e uma caneta nas mãos.  Ele não parecia ser muito mais velho que eu, tinha 22, 23 anos, no máximo. Eu tive aquela impressão de que o conhecia de algum lugar, mas não lembrava de onde. Ele pareceu lembrar-se de mim também. Mais tarde, descobri que o interesse dele por mim começou ali, naquele instante, naquele breve reconhecimento de fisionomias. Mas eu ainda tinha medo. Medo não, eu tinha repulsa a qualquer relacionamento que envolvesse algum sentimento maior. Pode-se dizer que meu exemplo familiar não foi dos melhores. Meus pais viviam brigando em casa, na minha frente. E o mais irônico é que hoje, eles estão super bem, super felizes. E a maior prejudicada sou eu. 

No dia seguinte, descobri de onde o conhecia. Nós éramos da mesma turma Ele chegou atrasado, e me viu no fundo da sala, olhando para ele. Eu ainda não sei o que me fez encará-lo por tanto tempo, a ponto dele perceber. Ele rapidamente se sentou, mas não sem me dar um discreto sorriso torto antes de se virar. Naquele momento, meu corpo reagiu de uma forma no mínimo, estranha. Inesperada. As borboletas quase levaram meu estômago de mim, meu coração marcou presença no meu peito e o sangue apostou corrida para o meu rosto, me deixando vermelha. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, nunca tinha me sentido assim. 

No fim daquela aula, ele me esperou na porta da sala. Foi um ato de muita coragem, no mínimo. Ele perguntou se podia me acompanhar no almoço, e, sem pensar, eu disse sim. Uma voz, bem lá no fundinho dizia para fugir dali o mais rápido o possível, mas, de alguma forma, eu consegui ignorá-la. E fui. E não me arrependi. Nós nos demos bem, logo de cara. Mesmos gostos, mesmos pensamentos, mesmo curso na faculdade. A mesma turma. Eu me senti muito bem durante todo o tempo em que estive com ele. A vozinha companheira na minha cabeça até se calou. Mas fez questão de voltar no momento em que fiquei sozinha novamente. Junto com ela, o medo e a insegurança apareceram, e eu, enfim, percebi: Estava me apaixonando. 

Nosso primeiro beijo? Aconteceu alguns encontros depois. Eu já tinha certeza que estava completamente apaixonada, e ele parecia sentir o mesmo. Ele me levou para ver o pôr-do-sol na praia, e, ali, com o céu alaranjado de fundo, me beijou e disse que me amava pela primeira vez. Foi repentino, mas eu acreditei. Acreditei porque sentia o mesmo. Eu tinha dois sentimentos brigando dentro de mim. O medo do que estava por vir e a vontade de viver esse amor inesperado. 

Não consegui mais suportar essa guerra dentro de mim quando ele deu o primeiro passo que significava um compromisso maior do que um simples namoro. Eu passava mais tempo na casa dele do que na república onde morava, então, um dia, ele me chamou para me mudar definitivamente para lá. Eu disse que precisava de um tempo para pensar. Passar o dia e morar junto são coisas completamente diferentes. Ou não? Eu não suportava mais. Contei tudo para ele. Minha história, meus medos, minha insegurança e o motivo dela. E ao invés de correr, como qualquer outro cara faria, ele me abraçou. E não disse uma palavra até que eu me acalmasse. "Nós nunca cometeremos os mesmos erros que os seus pais. Eu vou te ajudar a vencer esse medo". Lembro de suas palavras como se ele as tivesse dito há segundos perto de mim. 

Eu não tinha ideia do que ele estava planejando. 

Levar a vida a dois não foi a experiência mais fácil do mundo. Nós eramos muito jovens, não sabíamos nada da vida. Ou nada dessa nova vida. Mas estávamos aprendendo juntos, e ensinando um ao outro.

As discussões momentâneas eram invetáveis. Normal quando duas pessoas diferentes - ou muito iguais -dividem o mesmo teto. Mesmo assim, eu só me lembro de uma das nossas brigas. A única briga séria que nós tivemos, durante todo esse tempo. Aquilo me fez lembrar dos meus pais. Depois de tanto esforço para acabar com eles, meus antigos conhecidos, o medo e a insegurança, me inundaram como se nunca tivessem saído daqui. Mas, dessa vez, as ondas eram mais fortes. Afinal, agora eu era a protagonista da história.

Aquela sensação foi insuportável para mim. Eu saí sem rumo, pelo meio da rua, tarde da noite. Já estava preparada para o fim de tudo aquilo, de tudo que nós construímos juntos. Mas ele veio atrás de mim e me fez acreditar no contrário. Olhou nos meus olhos, e disse que nunca me deixaria sozinha.

Ele cumpre essa promessa até hoje.

Algumas semanas depois disso, ele fez o que planejava desde quando começamos a morar juntos. No dia em que completamos dois anos de namoro, ele me levou ao lugar do nosso primeiro beijo. E me pediu em casamento. Depois de tudo que passamos, depois de tudo o que ele fez por mim e levando em consideração tudo o que eu sentia por ele, eu não podia dizer outra coisa que não fosse "Sim, eu aceito".

Nós casamos depois que terminamos a faculdade. Constituímos família. Hoje, somos em quatro. Eu, ele e mais dois meninos. Eu me tornei aquele tipo de mãe que conta incessantemente como os pais se conheceram. Aquele tipo de mãe que faz questão de mostrar, em cada atitude, a felicidade que sente em estar ao lado do pai dos meus filhos. Meus filhos nunca vão sentir medo de amar. Nunca vão ser inseguros. Pelo menos não por culpa minha. Porque eu sou o tipo de mãe que não se cansa de contar que o homem que eles chamam de  pai, é a melhor coisa que me aconteceu. A melhor coisa que já foi minha.

Recapitulando...


A nossa história daria um livro. Desde o primeiro "oi" até agora se vão anos. É incrível o fato de eu ter a pouca idade que tenho e tanta história para contar. Ou melhor, uma história só, com muitos capítulos. Será que ela vai chegar ao fim? E se chegar, vai ter um final feliz? Qual vai ser a versão desse fina, a minha ou a sua? Você consegue responder? Porque, sinceramente, eu não consigo. Tudo o que eu sei é que mesmo que o final feliz não seja o meu, eu nunca vou esquecer a nossa história, ou a minha história com você.  A esperança, cada lágrima, cada frio na barriga e cada sonho com cara de realidade vai ficar guardado pra sempre na minha memória.

Se você estiver ao meu lado daqui a alguns anos, eu te conto a história inteira sob o meu ponto de vista, só para dizer no final que tudo valeu a pena. Se não, eu vou agradecer pela experiência que você me proporcionou. O amor. O amor que me fez amadurecer. O amor que me fez tomar as melhores decisões. O amor que eu sinto por você desde que consigo me lembrar. O amor que eu sei que você sente por mim, mesmo que em circunstâncias diferentes, proporções diferentes. Tudo foi por causa do amor.