I forgive you, I forgive me ♪


Eu voltava para casa naquele fim de tarde chuvoso me sentindo péssima pelo mesmo motivo de sempre. Mais uma vez, deixei Ryan me enganar. Mais uma vez, acreditei no seu sorriso fácil e na sua voz de veludo. Mais uma vez. E decidi que essa seria a última. Mas eu já não tinha decidido isso das outras vezes? Eu já não chorava mais. Não tinha mais lágrimas para gastar com ele. O que eu sentia era mais do que um simples coração partido. Era um sentimento de insuficiência. Era comigo. Eu estava irritada comigo mesma por ter caído na mesma história, por ter acreditado nas mesmas palavras. Eu só tinha 17 anos, eu só estava me formando no ensino médio. Eu ainda tinha muita coisa para viver, muitas pessoas para conhecer... Mas será que um dia eu vou conseguir deixar tudo isso para trás?

- Annabeth? – Ouvi a voz de minha mãe me chamar quando entrei em casa.
- Oi mãe. – Disfarcei a cara emburrada, tentei colocar uma alegria no tom de voz e fui até o encontro dela na sala.
- Chegou uma carta para você... De Cambridge. – Minha admissão na faculdade.
- Cadê, mãe?
- Em cima da mesa. – Ela apontou para um envelope azul e branco no meio da mesa da sala. Eu tinha esquecido que a carta ia chegar hoje. Só faltava eu não ter sido aceita para completar meu maravilhoso dia. Peguei o envelope e mesmo com o olhar curioso de minha mãe, fui para o meu quarto. O coloquei em cima da minha cama e fiquei horas encarando aquele pedaço de papel que podia virar a minha vida de cabeça para baixo. Olhei pela janela procurando pelo meu vizinho e melhor amigo, Clapton, mas sua janela estava fechada e as luzes estavam apagadas. Eu queria saber se a carta dele havia chegado, se ele tinha passado, se ele ia para Londres... Se ele ia me abandonar aqui em Los Angeles. Se ele estivesse aqui, com certeza já teria me feito abrir esse maldito envelope. E foi o que eu fiz num impulso. Peguei o envelope, o rasguei e peguei a carta.

“Annabeth Chase Montgomery, blá, blá, blá, blá, você foi admitida para se juntar ao corpo de alunos da Cambridge University no próximo outono”

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Eu comecei a chorar tudo o que não tinha chorado naquele dia. Mas aquelas lágrimas eram diferentes. Eram de alegria. Tyler, meu irmão mais velho chegou imediatamente ao meu quarto, assustado por causa do meu grito.
- O que aconteceu, Ann? – Eu corri para os seus braços e tudo o que eu conseguia fazer era chorar. Ele entendeu tudo quando viu a carta na minha mão. – Você foi admitida? – Assenti. – AAAH, A MINHA IRMÃZINHA VAI PRA LONDRES
- O que? – Meu pai perguntou enquanto entrava no quarto junto com a minha mãe.
- A Ann foi admitida em Cambridge, pai! – Tyler respondeu percebendo que eu não conseguia falar nada. Meus pais me abraçaram e eu chorei mais ainda. Não acreditava que aquilo estava realmente acontecendo. Quando eles conseguiram me acalmar e eu já conseguia falar alguma coisa, nós ouvimos gritos vindos da frente da nossa casa.
- ANNABEEEEEEEEEEEEEETH! ANNABEEEEETH APARECE NA JANEEEELA! – Clapton estava no meio da rua, todo molhado por causa da chuva que caía desde cedo. Ele odiava chuva. Aquela euforia toda só podia significar uma coisa.
- Estou descendo! – Falei assim que cheguei na janela. Saí correndo pelo meu quarto deixando meus pais e meu irmão para trás, desci as escadas de dois em dois degraus, abri a porta da sala num puxão só e pulei os degraus da varanda, parando na frente de Clapton.
- Minha carta de Cambridge chegou. – Ele falou. – E eu fui admitido!
- AAAAAAAAAAH, EU TAMBÉM!
- ANN, NÓS VAMOS PRA LONDRES! – Ele me deu um daqueles abraços de urso que me tirava do chão e começou a pular comigo no colo em baixo da chuva enquanto nós dois gritávamos e chorávamos no meio da rua. Nossos pais estavam na janela da minha casa nos olhando e os vizinhos começaram a aparecer nos portões perguntando o que tinha acontecido.
- NÓS VAMOS PRA CAAAAAAAAAAAAAMBRIDGE! – Era a nossa resposta para cada um que aparecia. Já estávamos quase entrando na minha casa quando um carro que eu conhecia parou na nossa frente e abaixou o vidro. Era Ryan.
- O que é isso, Annabeth? Ficou louca? – Ele perguntou como se eu devesse algum tipo de satisfação para ele.
- Vai embora, cara. – Clapton respondeu por mim. Ryan o ignorou e olhou para mim. Eu sempre ficava do lado dele quando Clapton fazia essas coisas, mas dessa vez foi diferente.
- Vai embora, Ryan.
- O que? Eu vim aqui pra gente conversar e se acertar, gata. Entra no carro...
- Acertar o que, Ryan? A gente não tem nada pra acertar. E, por favor, não me chama de gata. E ah, lembra de quando você disse que eu não era inteligente o suficiente para entrar em Cambridge? Pode começar a morder a sua língua, porque eu passei. Eu vou para Londres. E você está estragando a minha comemoração. – Ele olhou para mim sem entender nada e foi embora. Só eu sei o quanto doeu falar aquilo tudo para ele, mas eu tinha que me libertar. Eu tinha que superar. Querendo ou não, cinco anos sem encontrar com ele se esticavam na minha frente.
- Você nunca mais vai chorar por causa desse babaca. – Clapton falou para mim e me deu um abraço.
- Não mesmo. – Respondi.
- Hey, crianças, saiam dessa chuva! – Eu tinha acabado de receber a minha admissão na faculdade e a minha mãe ainda me chamava de criança... Mães. – Eu fiz chocolate quente. – A palavra mágica. Nós dois saímos correndo – feito duas crianças – jogando água das poças do chão um nos outro. – E nós temos que começar a combinar os detalhes da ida de vocês para a Inglaterra. – Minha mãe disse quando nos aproximamos.

CINCO ANOS DEPOIS

Clapton estacionou o carro na calçada entre as nossas antigas casas. Era estranho estar de volta de vez. Me acostumei com as idas e vindas de Los Angeles para Londres nesses cinco anos, e parece que aqui não é mais a minha casa, é a casa dos meus pais. Agora eu sou visita, ainda mais com esse anel na minha mão esquerda, que só faltava lançar um néon na minha testa escrito “estou noiva”. Nossos pais ainda não sabiam. Clapton fez o pedido ontem, antes de irmos para o aeroporto. Mas eu acho que quando eles estiveram em Londres para a nossa formatura já desconfiavam de alguma coisa. Tyler nem fez a piadinha de sempre sobre morarmos no mesmo apartamento. Desci do carro e fiquei olhando para a janela do meu antigo quarto. Nunca achei que me sentiria tão estrangeira na minha própria casa. Clapton parou do meu lado e percebi que ele também olhava para a janela do antigo quarto dele.

- É estranho, né? – Ele perguntou.
- O que exatamente? Nós estarmos voltando para casa, o nosso sotaque completamente inglês nos Estados Unidos, a sensação dessa ser a casa dos nossos pais, não nossa, ou isso tudo somado ao fato de que da última vez em que viemos aqui, não estávamos nem namorando e agora estamos noivos?
- Tudo isso somado ao nosso noivado. – Ele pegou a minha mão esquerda e olhou para o anel.
- Nossos pais vão pirar. – Falei tentando imaginar a reação das nossas mães quando vissem esse anel de noivado no meu dedo.
- Bem no fundo, eu acho que essa sempre foi a vontade deles...
- É verdade! Minha mãe nunca gostou das suas namoradas.
- Nem você, vai, admite. – Ele falou se aproximando.
- Você também não gostava dos meus namorados, estamos quites. – Ele me deu um beijo.
- Preparada para encarar a festa surpresa que eu sei que está esperando por nós dois na sua piscina?
- Sim. Com certeza não vai ser só um almoço de boas vindas. – Dito e feito. Entramos em casa de mãos dadas, ele segurava a minha mão direita de propósito, para que a mão esquerda ficasse livre e todos vissem o meu anel de uma vez. Não tinha ninguém na sala, chamei no pé da escada em direção ao segundo andar e ninguém respondeu. Fomos para a cozinha, e ela estava às moscas. Paramos em frente às duas portas que davam no jardim.
- Cara de surpresa em 3, 2, 1... – Puxei o lado esquerdo e ele o lado direto da porta e lá estavam todos. Nossos pais, irmãos, sobrinhos, amigos da época da escola, vizinhos, tios, primos, todos. Meu anel conseguiu passar as primeiras apresentações sem ser notado. Até que Candice, minha prima, percebeu a existência dele enquanto conversávamos.
- ANNABETH CHASE MONTGOMERY, QUE ANEL É ESSE NO SEU DEDO? – Olhei para Clapton enquanto todos olharam para mim depois do comentário discreto da minha prima. Ele me abraçou pelos ombros e eu envolvi sua cintura com o braço direito enquanto ele me dava um beijo na testa. Levantei a mão esquerda na altura do meu rosto e anunciei.
- Estamos noivos. – Nossas mães começaram a chorar. Meu irmão fez uma ameaça de brincadeira à vida de Clapton. Nossa família veio nos cumprimentar mais uma vez, agora dando os parabéns pelo noivado. Ninguém pareceu muito surpreso, para falar a verdade. O tom dos comentários não era “eles só tem 22 e já vão casar”, era mais para um “achei que eles fossem casar aos 18 quando foram para Londres, até que esperaram o suficiente”.
- Parabéns, Annabeth. Parabéns, Clapton. – Alguém atrás de mim falou com uma voz que não era estranha para mim, mas eu não lembrava de quem era, de repente pelo amadurecimento...
- Ryan... Obrigada. – Clapton enrijeceu os músculos ao meu lado, mas se tranquilizou quando eu segurei a sua mão.
- Obrigado, cara. – Era a primeira vez que nós dois víamos Ryan desde a noite em que descobrimos ter sido admitidos em Cambridge. Ele estava diferente, tinha um tom mais sério em sua expressão. Visivelmente não era mais o adolescente irresponsável e inconsequente que eu deixei aqui quando fui embora. Nós ficamos num silêncio constrangedor até que Ryan tomou coragem e falou outra vez.
- Clapton, eu posso falar com a Annabeth por um momento? – Ryan Price pedindo permissão para fazer alguma coisa. Ele definitivamente não era mais a mesma pessoa. Clapton olhou para mim e eu fiz um ligeiro movimento afirmativo com a cabeça. Mais do que ninguém ele sabia que eu tinha que ter aquela conversa com o meu passado. Ele sabe o quanto eu sofri. Clapton segurou meu rosto com as duas mãos e me deu outro beijo na testa. Cumprimentou Ryan com a cabeça e foi conversar com uns amigos. – Ele é um cara de sorte... – Ryan balbuciou,mas eu ignorei.
- Vamos para a varanda da frente. Vai ser melhor de conversar lá. – Fizemos o caminho de volta para a entrada da minha casa mais uma vez, num silêncio constrangedor.
- Ann...abeth – Ele não sabia se me chamava pelo nome ou pelo apelido. – Quando eu ouvi que você estava voltando para cá, soube que teria que vir falar com você. – Ele achou que eu fosse falar alguma coisa, mas como continuei calada, ele prosseguiu. – Eu fui um babaca. – Assenti internamente. – Vim te pedir desculpas pelo que fiz com você durante todo aquele tempo. Eu gostava de você, por mais que seja difícil de acreditar. Eu só era muito inconsequente. Achava que nunca ia te perder e não te dei o valor necessário. Eu passei esses cinco anos pensando em te ter de volta quando você voltasse para casa, mas pelo visto, cheguei muito tarde...
- Pois é... De certa forma, eu ter ficado com o Clapton foi culpa sua. Era sempre ele quem ficava do meu lado quando eu voltava para casa chorando por causa de alguma coisa estúpida que você tinha feito. Foi ele que ficou perto de mim quando eu senti a sua falta assim que eu me mudei para Londres. Foi ele quem me ajudou a te esquecer. Foi por ele que eu me apaixonei quando eu consegui voltar a sentir alguma coisa depois de você.. – Ele ouvia tudo calado. – Eu te perdoo pelo que você me fez passar, nós éramos muito novos e pelo visto você mudou bastante de lá para cá. Mas eu te agradeço por tudo o que você fez. Porque você fez com que eu enxergasse que o amor da minha vida estava muito mais perto do que eu podia imaginar. Ele era, literalmente, “the boy next door”. O estrago está feito, não tem mais como mudar. Passar o resto da minha vida te odiando só vai fazer mal a mim mesma. Eu voltei para casa completamente diferente, e quero deixar essa mágoa no passado.
- Você não sabe o quão agradecido eu fico por você ter me perdoado. E, sinceramente, feliz pela maior burrada que eu fiz na minha vida ter gerado bons frutos, pelo menos para você. Já posso ir embora tranquilo. – Ele desceu as escadas da varanda e virou para mim quando chegou no chão. – Seja feliz, Ann.
- Eu sou, Ryan. Te desejo o mesmo. – Ele foi para o carro e eu voltei para a minha festa de boas vindas.

 Clapton estava conversando com um de seus primos, mas assim que me viu voltar, veio em minha direção.

- Cadê o Ryan? – Ele perguntou quando se aproximou.
- Foi embora.
- O que ele disse?
- Que você era um cara de sorte. – Ele sorriu.
- Você está bem? – Ele afastou uma mecha do meu cabelo que caía nos olhos.
- Não podia estar melhor. – Ele me deu um abraço. – Eu te amo, Clapton.
- Eu também te amo, Annabeth. – Ele me deu um beijo e sem sair do meu lado, voltamos para o meio dos convidados. E eu soube que as coisas seriam assim para sempre. Eu e ele. Juntos. Para sempre.



Hey pessoas, não sei se vocês sabem, 
mas eu sou vi-ci-a-da em Kelly Clarkson, 
e essa música  tem um significadozinho especial, 
bateu inspiração e  rolou textinho. 
Espero que vocês  tenham gostado ♥