In case you just want to come home...

Mais uma vez, ela gastou horas de sua noite à toa. Mais uma vez, suas únicas companhias foram a jaqueta preta pendurada nas costas da cadeira marfim da sala de estar e uma taça de vinho tinto. Diariamente, ela fazia a mesma coisa quando chegava do trabalho: tomava banho, tentava ignorar as histórias que os lençois da cama insistiam em contá-la, se sentava no sofá perto do telefone e ligava a TV. E esperava.

Naquela última noite, ele saiu batendo a porta e deixou a jaqueta. Ela não foi atrás dele, mas também não se desfez da peça de roupa. Apesar do frio que fazia lá fora, ele não voltou para buscar o agasalho. Ela guardou a jaqueta na esperança de que um dia ele voltasse e a buscasse. De repente, nesse dia ele se sentaria no sofá como sempre antes e contaria sobre o seu dia. Ela o abraçaria quando ele contasse do colega babaca do escritório que fazia de tudo para prejudicá-lo e falaria algo que, com certeza, ia o fazer sorrir e apertar o abraço em volta dela. Ela sabia que conseguiria porque ninguém no mundo o entendia como ela. Ela se sentiria segura novamente com o abraço apertado. De repente ela abriria a porta naquele momento e a encontraria sozinha, assistindo TV com uma taça de vinho ao lado e saberia. Saberia que ela só fazia isso quando algo a incomodava e ela não estava bem. Saberia a coisa certa a dizer. Saberia que a teria de volta com o mínimo esforço, porque, para começar, ele nunca a perdeu.

Outra noite chegou e lá estava ela, presa a um fiozinho de esperança, ao lado do telefone e da taça de vinho. Esperança de que ele não tenha encontrado o que procurou lá fora. De que ele sentisse saudade de como era ao lado dela. De que ele mudasse de ideia e quisesse voltar para casa. Ela estaria esperando para devolver a jaqueta. E em caso de ele querer ficar para conversar, ela ofereceria uma taça de vinho e braços abertos para aceitá-lo de volta. Ela sabia que um dia ia ter que deixar isso passar, mas ainda não. Ela ainda ia esperar por ele naquela noite. Como esteve desde a noite em que ele saiu. E como sempre vai estar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário