. 5 a.m.


POV ASHLEY

- Mike... são cinco da manhã. Tenha dó!
- É o melhor horário pra fotografar, Ashley! - Ele disse, empolgado demais para o horário. Abri os olhos contra a minha vontade. 
- É o melhor horário pra dormir, Mike. 
- Depois que você ver as fotos, eu juro que vai mudar de ideia. - Mike tinha acabado de levantar e estava procurando roupas quentes em sua mala. Eu sabia que não devia ter me apaixonado por um fotógrafo.
- Você quer muito mesmo a minha companhia? - Ele deitou ao meu lado novamente antes de responder.
- Se fosse pra ficar sem a sua companhia, eu viajaria sozinho, querida. - Me deu um beijo na testa. - Agora levanta, vamos perder a luz.
- Vai ter luz até o sol se por, Michael...
- Mas a luz é diferente, principalmente em dias de neve... Você sabe disso. - Respirei fundo. Se não levantasse logo, ele ia ficar tentando me convencer a isso e eu perderia o sono. Ou pior: poderia deixá-lo chateado. E isso nunca é opção.
- Você vai me dar um chocolate quente? - Perguntei depois de sentar na cama.
- Vou fazer melhor que isso. - Ele sorriu.
- Como? - Mike parou para pensar, como se tivesse ficado surpreso com a minha pergunta.
- Vou te dar um chocolate quente grande. - Sorri.
- É justamente por isso que eu te amo, Michael.
- Tenho a impressão que não vai me amar tanto quando olhar o relógio. - Olhei para o despertador da mesa de cabeceira do hotel automaticamente.
- AINDA SÃO 4:15 DA MANHÃ, MIKE! Você disse que eram cinco!
- Eu disse que queria sair às cinco. Te conheço bem demais e já sei que de manhã, você não leva menos que quarenta minutos para se arrumar. O timing é perfeito.
- Agora você me deve um chocolate quente grande e um croissant de chocolate também.
- Oui, mademoiselle. Nós estamos em Paris. Isso é fácil de conseguir,
- Nós estamos em Paris. Obrigada por me lembrar disso.
- Melhorou o humor?
- Não muito, pra falar a verdade. Ainda estou sentido as 300 horas de viagem e a mudança do fuso horário nas minhas costas. - Disse, quando finalmente me levantei da cama. Ele deu um sorriso. - Que foi?
- Nada demais. Só acabei de perceber que essa é a primeira vez em quatro anos de relacionamento que você acorda tão cedo por minha causa sem estar com a cara emburrada de sono. - Mike me abraçou.
- Não se anime. Eu levantei cedo para aproveitar todos os minutos de Paris. Você não tem nada a ver com isso. - Menti.
- Vou fingir que acredito.
- Quanta presunção, Michael! - Ele me deu um beijo.
- Bonjour, Ash.
- Bonjour, baby.
- Vai se arrumar logo, antes que a sua preguiça se torne contagiosa.
- Eu bem que queria que ela fosse... A cama sempre é receptiva para corpos querendo descanso... - Tentei uma última vez.
- Não, Ash. Nós vamos sair. Não há forma de argumentar. - Ele sorriu.
- Okay, general! Me arrumo em dez minutos. Ou mais.
- Com certeza, mais.

POV MIKE

Ashley entrou no banho e eu fiz os últimos ajustes nas câmeras que levaríamos hoje. Peguei as lentes extras e assegurei que a caixinha ficasse no case da minha câmera.A verdade é que eu não tinha dormido nem um segundo durante a noite e tinha a impressão de que ela estava demorando demais no banheiro, apesar de ter entrado há cinco minutos.

Tudo dependia de hoje. Hoje era o dia que ia mudar nosso futuro pra sempre. Eu queria que tudo saísse perfeito, do jeitinho planejado e, pra isso, não podia apressar a Ashley. Ela odiava ser apressada. Me sentei na cama e fiquei vendo as fotos que tiramos no aeroporto ontem, antes de embarcar.

Nós parecíamos duas crianças indo para o parque de diversões. Entendi porque as pessoas passando por nós nos julgaram o tempo todo: aquelas eram as selfies mais divertidas que nós tínhamos tirado em quatro anos. Pelo visto, essa viagem ia quebrar muitos recordes de primeiras vezes para nós dois, já que também era nossa primeira vez em Paris e sonho de metade da vida da Ashley.

- Demorei? - Ela perguntou quando saiu do banheiro. Quase respirei aliviado.
- Quase nada. Vamos?
- Sim, sim. Só deixa eu pegar a minha câmera.
- Já separei para você. - Estendi o case dela e consegui um sorriso. Poderia viver para ter sorrisos assim diariamente.
- Merci mousieur.

POV ASHLEY

Achei estranha a animação exagerada do Mike quando nós saímos para fotografar. Tudo bem, era Paris, eram nossas férias planejadas por anos, mas ele parecia com mais vontade de sair do quarto do hotel por sair do que por ver a cidade. Contrastando comigo, que já tinha uma lista mental de todos os lugares que queria conhecer. 

- Meu cadeado está na bolsa - Falei, sabendo que ia ter que gastar bastante saliva para convencê-lo a ir onde eu queria.
- Oi? - Ele respondeu quando fomos ao encontro do ar gelado de fora do hotel. O dia nem havia clareado ainda.
-  Pra prender na Pont Des Arts. Com os nossos nomes. De repente assim você nunca vai cogitar a ideia de me largar. 
- Você comprou mesmo um cadeado? - Ele sorriu. 
- Sim. Foi uma das primeiras coisas que eu comprei para a viagem. 
- Tudo bem. A vista de lá também deve ser boa para fotografar. 
- Sério?
- Por que a surpresa? - Ele pareceu curioso.
- Nada... Só achei que precisaria de mais esforço para te convencer a ir lá no primeiro dia de viagem. 
- Hoje quem manda é você, querida. 
- Então vamos voltar para a cama! - Eu ri. 
- Isso não. 

Nós fomos tomar café da manhã (com direito ao meu croissant de chocolate) e, quando saímos, começamos a fotografar. Realmente, com as luzes do amanhecer, as fotos ficavam muito mais bonitas e com o talento do Mike, em menos de duas horas eu já tinha basicamente um book completo de fotos minhas. 

Larguei a minha câmera quando chegamos na ponte. Lá de cima, eu não sabia se me distraia mais com a vista pro Rio Sena ou com a quantidade de cadeados pendurados. Cada um, significando um casal, uma história de amor diferente. Minha mente de escritora começou a pipocar e eu sabia que aquela viagem ia me render inspirações maravilhosas, mesmo sendo só o primeiro dia. 

- Vai prender o cadeado que eu te fotografo. - Mike disse. 
- Okay. 

Antes de prender, ainda mostrei para sua câmera nossos nomes escritos no cadeado. Demorei um pouco para conseguir encontrar um lugar livre para colocá-lo. Consegui travar e, antes de jogar a chave no rio, me virei para que ele fizesse isso comigo. 

Então eu vi. E entendi o motivo de tanta agitação. Sem perder um clique, Mike estava ajoelhado. Segurava a câmera com uma mão e, na outra, tinha uma caixinha. Com um anel. Eu sabia que minha reação ia ficar registrada para sempre e, naquele momento, o amei mais ainda por isso. E por todo o resto.

- Vem jogar a chave no rio comigo. - Falei no impulso, sem tirar os olhos daquele anel.
- Só se você disser que casa comigo.- Eu sorri. E imaginei que aquele anel ia ficar lindo no meu dedo. E que o cadeado preso às margens do Rio Sena tinha trazido respostas com muita rapidez. 
- Caso sim. 

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