Morando Sozinha: O início

Quando pequena, eu falava que ia sair de casa quando fizesse dezoito anos. Mas, nessa época, eu achava que morar sozinha era como montar uma casa da Barbie. Nunca imaginaria que eu, no alge da grande experiência adquirida ao longo dos meus dezoito anos de vida, sairia de casa, de fato. Não, eu não saí "temporariamente". Eu saí mesmo. Me mudei para outra cidade, para ficar perto da faculdade.

Muitos no meu lugar, com certeza, estariam comemorando, prestes a cair nas festas e nas noitadas sem a fiscalização dos pais. Confesso que comemorei no início. Não por causa das tais festas, até agora não fui a nenhuma. Mas pela mudança que ia ocorrer e que, olhando de fora, parece muito mais simples do que realmente é.

O engraçado é que eu tenho uma amiga que mora sozinha, pelo mesmo motivo que eu, que repetiu, diversas vezes antes da minha mudança: "Não reclame de morar com seus pais". Eu ouvia e pensava: "É claro que eu vou sentir falta dos meus pais. Mas já estou acostumada a passar váriso dias fora de casa, não ai ser muito diferente agora...". E eu não podia estar mais enganada!

Dei muita sorte de ter conseguido um lugar legal. Divido o quarto com uma colega de classe e o apartameto com mais um menino e uma menina. Eles são incríveis. Todos me receberam super bem, me acolheram maravilhosamente. Mas, aqui, pela primeira vez na vida, eu respondo por mim mesma, ninguém se responsabiliza. Se eu quiser sair e passar a noite fora de casa, ninguém vai me ligar às duas da manhã perguntando onde eu estou e muito menos vai me esperar acordado. Pode parecer pouco, mas no início, tudo é um baque.

Aí, você imagina como não deve ter ficado a minha cabeça, quando, na minha segunda noite na casa nova, minha colega de quarto saiu e eu não. Voltei para casa sozinha depois da aula, quase surtando - nunca tinha andado de ônibus sozinha por um lugar que não conheço -, e para completar a situação, eu ainda não estava habituada à casa nova, e muitos podem não acreditar, mas, sim, eu sou tímida.

Fiz o mínimo de coisas que a minha vergonha me deixou fazer. Um miojo - comida oficial de adolescente que mora sozinho -, tomei um banho e entrei na internet pra me distrair. Nessa de "me distrair", fiquei conversando com um amigo pelo facebook até as três da manhã. E a minha colega de quarto? NADA. Eu estava começando a ficar oficialmente preocupada. Decidi ir dormir por causa da aula e da prova que tinha no dia seguinte, e às três e meia, ela me ligou, dizendo que ia dormir na casa de um amigo porque ficou tarde para voltar sozinha.

Ela chegou às 10 da manhã. Eu já estava acordada, e morrendo de vergonha de sair do quarto, claro. A reação das outras pessoas da casa foi tão natural, que eu cheguei a me sentir ridícula por ter me preocupado tanto. De certa forma, essa noitada dela foi boa para fazer a minha ficha cair: Eu não precisava dar satisfação a ninguém enquanto estivesse aqui. Vai dizer isso para alguém que viveu dezoito anos sob rédeas curtas... É MUITO estranho. Mas, de certa forma, é bom.

Certo dia, um amigo disse que eu ia criar responsabilidades  super rápido depois que me mudasse. Eu não acreditei, já me achava responsável. Mas, não é que agora eu lembro de verificar se a porta está trancada antes de dormir?

Um novo capítulo se iniciou na minha vida. E ele vai gerar vários capítulos por aqui. Vai que um dia alguma editora resolve publicar minhas peripécias de recém liberta?

Sim, essa história e as próximas que eu vou publicar nessa tag, são, 
diferentemente das outras,
verídicas. E provavelmente estão acontecendo  comigo
no momento em que você estiver lendo esse texto. 
Espero que vocês curtam ler as minhas histórias
da mesma maneira que eu curto escrevê-las.
E da mesma forma que eu estou amando vivê-las.
Um beijo da Pequena Sereia.  

Figurinha repetida

"Foi só mais um beijo", ela pensou. "Só um beijo". Ela sabia, desde o início, que não conseguiria se sentir do mesmo jeito em relação a ele, mas resolveu tentar. Por ele. Por carência. Não sabia o porquê.

- Você sabe que a gente vai demorar a se ver. Sabe que agora, eu moro longe. Mais do que tudo, sabe que o que eu disse da última vez ainda vale. Sabe que é complicado
- Eu quero fazer um esforço para descomplicar - Ele disse, enquanto ela tentava ignorar a conversa, de olhos fechados, quase dormindo.

Ela não tinha mais o que falar. Sabia que ia se arrepender antes de fazer o que fez. Mas o fez. Ficou com ele mais uma vez.

Ela achou que ia sentir as tais borboletas no estômago, que ia ver tudo mais colorido, que ia sentir tudo o que sentiu da primeira vez. Mas, ao invés disso, ela sentiu outra coisa. Ela não sentiu nada. Nada além de um sentimento de culpa imenso. Aquela sensação de "não devia ter feito isso".

- Vou sentir a sua falta - Ele disse, ao se despedir. Suas palavras pairaram no ar, indo de encontro ao vazio da resposta dela.

No final do dia, ele estava esperançoso, e ela, culpada. Ele esperava pelo próximo encontro. Ela sabia que isso não ia acontecer. Ela não conseguia sentir mais nada. Nem o pouco que costumava sentir antes. Naquele caso, a figurinha repetida não ia ficar para a coleção.