Me olhei no espelho pela milionésima vez. Não era como se nós
fôssemos ser apresentados hoje, mas alguma coisa me dizia que era a primeira
vez que ele ia reparar em mim como eu vinha reparando nele há um tempo. Depois
de muitas tentativas, consegui dar um jeito no meu cabelo. Fiz uma maquiagem
básica e me olhei novamente.
- Estou péssima. – Falei para o meu reflexo.
O primeiro impulso foi escolher outra roupa, arrumar o
cabelo de outra forma e me maquiar de novo, mas ele tinha chegado quase uma
hora antes do horário combinado e já estava me esperando... Não queria me
atrasar. Respirei fundo, prendi o cabelo num coque e desci a quantidade absurda
de degraus da porta do meu quarto até o portão da rua da minha casa.
Vinte minutos de caminhada. Vinte minutos para respirar
fundo e tentar acabar com esse frio na barriga de nervosismo. Um terço de hora
que passou mais rápido do que nunca enquanto eu desci e subi ladeiras e
atravessei ruas.
Entrei no shopping e fui direto para o cinema, onde nós
marcamos de nos encontrar evitando todos os espelhos do caminho. Não queria me
ver. Sabia que estaria pior do que quando saí de casa.
Já tinha desistido de tentar entender como eu e ele tínhamos
chegado até ali. Era dia 3 de janeiro, uma quinta feira. A primeira quinta
feira do ano, para falar a verdade. Uma semana antes, no natal, nós éramos só
amigos. E hoje... Hoje era nosso primeiro encontro.
Cheguei ao saguão do cinema e quase entrei em desespero. Nunca
tinha visto aquele lugar tão cheio! Será que as pessoas não tinham mais o que
fazer no dia 3 de janeiro? Era a primeira semana do ano e todo mundo resolveu
ir ao cinema? Ficar em casa comendo rabanada, ninguém queria. Agora vai ser um
inferno para encontrar com o...
- Estou aqui. – Ouvi uma voz conhecida bem perto de mim
enquanto pegava o celular do bolso e começava a discar o número dele. Olhei
para o lado (e um pouquinho para cima, confesso) e o encontrei, sorrindo para
mim. Sorri de volta e ele me puxou num abraço. Não que eu nunca o tivesse
abraçado, John era meu amigo há quase um ano... Mas dessa vez foi diferente. –
Você está muito bonita. – Muito bonita? Oi? Ele tinha visto a mesma pessoa que
eu vi no espelho?
- Obrigada. – Respondi tímida. Pela primeira vez, tímida na
frente dele. – Desculpa ter te feito esperar tanto tempo...
- Não tem problema. Eu aproveitei e comprei nossos
ingressos, o que foi uma coisa boa, agora a fila está gigantesca. – Realmente
estava, fiquei com medo de ter que enfrentar aquilo assim que dei de cara com o
formigueiro que aquele cinema tinha se tornado. Nós já tínhamos conversado mais
cedo sobre os ingressos que ele fez questão de pagar, preferi não insistir.
Eu estava incrivelmente nervosa, o que era aceitável para um
primeiro encontro. Mas era de se questionar quando a pessoa que você ia
encontrar já estava cansada de te ver.
Tentamos ir para a sala esperar o filme começar, mas ainda
faltava mais de meia hora para a sessão e não nos deixaram subir. “Droga”,
pensei. Lá em cima pelo menos é mais escuro, dá para disfarçar melhor a
vergonha...
- Estava chovendo, não consegui vir com o short que eu
queria... – Falei e no mesmo instante me recriminei mentalmente. Você está
realmente falando das suas roupas com ele? Idéia brilhante, Sophia.
- Eu pensei nisso. Você tinha dito que vinha de shorts, mas
imaginei que não ia conseguir com o tempo lá fora. Mas você continua bonita,
mesmo de calça comprida. – Devo ter ficado vermelha. – E já que nós estamos
falando de roupa, devo dizer que essa camisa aqui é nova. A namorada do meu
irmão me deu no natal e disse que era para eu usar para uma pessoa especial...
– Ele abriu os abraços e levantou os ombros olhando para mim, como se quisesse
reforçar que tinha acabado de dizer que eu era a tal pessoa especial; Será
possível que esse menino conseguia ser mais fofo como um possível affair do que como amigo?
Num impulso, eu o abracei pela cintura e escondi o meu rosto
por causa da vergonha. No fim das contas, aquilo também serviu para deixar
claro que eu estava exatamente onde queria estar naquele momento. E,
principalmente, eu estava com quem eu
queria estar. E eu já queria aquilo há bastante tempo.
Nós continuamos disfarçando a ansiedade e o nervosismo
conversando sobre coisas genéricas até a hora em que pudemos entrar na sala de
cinema. Encontramos nossos lugares e nos sentamos. Deixei o braço da cadeira
abaixado propositalmente para ver o que ele ia fazer e assim que percebeu, John
o levantou e me abraçou.
- Sophia, antes de tudo, eu preciso falar com você. – Por
que eu sempre fico com medo quando falam assim comigo?
- Fale.
- Eu quero muito que alguma coisa aconteça hoje, mas eu
quero ser sincero com você. Você sabe que tem pouco tempo que eu saí de um
relacionamento de dois anos e meio, então eu não posso te prometer e não quero
te dar esperanças de alguma coisa mais séria agora. Ainda não estou preparado
para isso. Eu preciso que as coisas aconteçam devagar, entende? – Concordei
internamente.
- Claro que sim. Para falar a verdade, eu já tinha pensado
nisso antes de vir para cá. Fica tranquilo. – Falei.
- Tudo bem então.
Nós continuamos abraçados, conversando enquanto o filme não
começava. Quando as luzes se apagaram completamente, eu me aninhei mais no
abraço dele e ele começou a fazer carinho no meu braço. Quinze minutos depois,
nós estávamos do mesmo jeito e eu estava começando a ficar agoniada... Respirei
fundo e me sentei reta. Quando ele me olhou, eu segurei seu rosto e pressionei
meus lábios contra os dele. Depois disso, ou ele me beijava, ou nós já podíamos
ir embora. Felizmente, a opção escolhida foi a primeira. E uau... Que beijo! O
filme foi a última coisa que eu vi a partir daquele momento.
O que eu estava sentindo era completamente sem explicação. Eu
ficava repetindo para mim mesma mentalmente: “É só um beijo, relaxa, para com
isso”, mas parecia que eu tinha 14 anos e aquele era meu primeiro beijo ever.
- Se eu te disser que tenho vontade de fazer isso desde o
início do ano passado, você acredita? – Falei baixinho, perto do ouvido dele.
- Sinceramente, não. – Ele respondeu surpreso.
- Pois é... Falei e ele me deu outro beijo.
Nunca achei que fosse ser tão fácil me apaixonar como foi
com ele. E eu já sabia, porque ele já tinha dito, mas eu tive certeza que ele
gostava de mim do mesmo jeito quando, mesmo depois do “vamos com calma”, um
pedido de namoro Surgiu quinze dias depois... No meu aniversário.
E aí eu dei um novo sentido à expressão “sorrindo de orelha à
orelha”, porque isso é basicamente o que eu faço todo santo dia só de ver o tal
menino de cabelos encaracolados que era
só meu amigo. E pensar que tudo começou com uma sms de “vamos sair qualquer dia
desses” que foi concretizada. Numa quinta feira qualquer.
Lá-lá-ia!! Abstenho-me de comentar... RSrs!
ResponderExcluir<3
http://ancoreblog.blogspot.com
Olha, tô pra te dizer que essas minhas amigas estão cada dia mais apaixonadas - e os textos mais apaixonantes, haha
ResponderExcluirFofo demais, Ari *-*
http://elastemalgumestilo.blogspot.com.br
Suas lindas :)
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