Ah, se ele soubesse...


São oito da manhã de sábado e eu acordo. Antes de sair da cama delicadamente, dou um beijo na testa dele e preciso de concentração para conseguir sair de perto da feição angelical que ele assume ao dormir. Troco de roupa e vou caminhar, como faço todos os dias. Na volta, compro o iogurte predileto dele e, quando chego em casa, a mesa do café está posta com todas as minhas comidas preferidas. "Foge da dieta um pouquinho, só por hoje, vai?". Como se eu fosse capaz de negar alguma coisa àqueles doces olhos castanhos.

Ele começa o dia fazendo as mesmas piadas sem graça que eu já ouvi e que não me importo em ouvir novamente. Depois do café, optamos por não fazer nada. É sábado, afinal de contas. Nossa sala nos aguarda com as nossas músicas, nossos filmes e séries e, por mais que eu tome contra dos controles remotos os dia inteiro, ele não reclama. Me faz massagem e me ouve falar sobre os problemas no trabalho, sobre o filme da sessão da tarde e sobre o casamento da minha irmã.

Ele diz que eu fico mais bonita usando camiseta branca e short jeans, com havaianas e rabo de cavalo do que quando passo horas me produzindo. Mesmo que faltem dois meses para o meu aniversário, ele liga dizendo "encomendei aquela torta que você pediu naquele dia, quando a gente estava naquele lugar e você ria das criancinhas que passavam correndo". E nem eu lembrava dessa torta.

Ele diz que me ama toda hora. Me enche de beijos, carinhos e mimos. Não se prende a datas. Se acha que deve me dar um presente, dá. Não importa o preço. "Valeu a pena por esse sorriso no teu rosto", ele fala depois que eu digo que não precisava comprar nada.

Ele é incrivelmente perfeito, mas não tem nem ideia disso.

Sou possessiva. Esperneio, brigo, converso, peço desculpas e brigo de novo quando me sinto ameaçada. Se ele soubesse como é desejado. Sinto ciúmes de qualquer menina mais bonita que se aproxima. Tenho medo de que ele finalmente perceba que eu sou um grande emaranhado de problemas, neuroses e traumas e que merece coisa muito melhor.

Ele tem a audácia de achar que a perfeita na relação sou eu. Diz que quando eu perceber isso, vou querer um cara dez mil vezes mais perfeito que ele. Bobinho. Nunca trocaria aqueles olhos castanhos, aquela barba mal feita, aqueles carinhos e as palavras doces ao pé do ouvido.

Hoje percebo que me apaixonei no momento em que ele disse "oi". Esperei. E consegui o que tanto queria: Que ele se apaixonasse de volta.

E ele diz que sou a mulher de seus sonhos. Mas fui eu quem sempre sonhou com um homem como ele.

Que sorte, a minha.
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Este texto foi inspirado e escrito como resposta a esse aqui, do Hugo Rodrigues, postado no Entenda os Homens (e esse é um site que, se você nunca visitou, deveria visitar AGORA). Como deve ter ficado claro, ele é dedicado ao meu namorado, que acaba sendo mais perfeito que qualquer outra possível comparação.

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